Descoberta de um câncer e a perda da irmã: a jovem Tuane Ribak é exemplo de resiliência
Tuane Franzon Ribak, de 34 anos, enfrentou desafios inimagináveis durante os últimos anos, como a descoberta de um câncer e a perda da irmã em um acidente de trânsito. Mesmo com as adversidades, a jovem, nascida em Xanxerê e criada em Ponte Serrada, é apaixonada pela vida e valoriza os bons momentos compartilhados ao lado da família e de amigos. Ela é formada em nutrição há 10 anos e hoje trabalha na parte de gestão geral de um restaurante, profissão pela qual é apaixonada.
Sua vida tomou um rumo inesperado, quando descobriu a leucemia em 2020. Ela conta que, inicialmente, havia uma suspeita de covid-19, pois naquele período, o mundo vivia o auge da pandemia. A jovem relata que sentia que não se tratava de algo “simples”.
“Foi passando o tempo e a gente nunca acha que é algo sério por se tratar de sintomas pequenos, digamos assim, para o tamanho que é o diagnóstico. Eu tinha muito sono, cansaço e falta de ar. [...]. Foi passando o tempo e eu comecei a suar muito à noite, e como já era inverno, não fazia sentido o tanto que eu suava”, relata.
Após consulta com um pneumologista, Tuane fez vários exames, entre eles, uma tomografia com contraste, a qual mostrou que tinha derrame pleural. A jovem ficou 13 dias internada em um hospital em Lages (SC), onde fez uma pleuroscopia. No primeiro diagnóstico, descobriu que tinha um linfoma. Ela conta que o diagnóstico não batia com os sintomas que aparentava.
Em uma segunda pleuroscopia, a médica recomendou que fosse feito um exame de medula para descartar o diagnóstico de leucemia. Ela lembra que a profissional achava que não fosse nada mais sério, e que o exame seria para descartar a hipótese de uma leucemia, pois seu hemograma estava bom. Mas, após o exame de medula, foi constatado que Tuane tinha leucemia.
“Em nenhum momento até hoje caiu a ficha que eu tenho uma doença grave. Eu não sei também se é porque não é uma coisa palpável, como se fosse uma ferida que você consegue visualizar ali e, dependendo como está aquela ferida, você entende qual que é a gravidade e qual que não é. Por ser uma coisa interna, eu nunca consegui me ver doente, até hoje eu não me vejo doente”, afirma.
Início do tratamento
A jovem recebeu a informação de que deveria fazer o transplante de medula. Seus pais e irmã fizeram o exame necessário para verificar a compatibilidade. Nesse período, ela iniciou o ciclo da quimioterapia. Tuane conta que foram três ciclos. Após descobrir que não houve remissão da doença, a segunda quimioterapia foi mais forte e, na terceira, desenvolveu uma bactéria no intestino e foi internada na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). Por conta da forte medicação para a bactéria e a quimioterapia realizada ao mesmo tempo, ficou internada por mais de 40 dias.
No início de dezembro de 2020, recebeu a informação de que a medula de sua irmã, Bárbara Franzoi Ribak, era 100% compatível. Tuane foi internada para realizar o transplante de medula em Curitiba (PR), no Hospital Nossa Senhora das Graças, o qual é referência no processo.
Sobre o transplante de medula
O transplante de medula óssea é um procedimento que substitui células não saudáveis produtoras de sangue por células saudáveis. Têm como objetivo a reconstituição de uma medula saudável. Com isso, o organismo do paciente transplantado passa a produzir novas células da medula óssea e do sangue. A falta de informação leva as pessoas a pensarem que a medula é um órgão que será transplantado. Na realidade, é um tecido líquido-gelatinoso que ocupa o interior dos ossos, conhecido popularmente por 'tutano'. Na medula óssea são produzidos os componentes do sangue: as hemácias (glóbulos vermelhos), os leucócitos (glóbulos brancos) e as plaquetas.
Semanas após receber a medula, Tuane soube que deu tudo certo com o transplante. Ela conta que é necessário ficar em torno de 100 dias na cidade onde é feito o procedimento, o que faz parte do processo de observação.
“Eu ganhei alta antes dos 100 dias, porque eu estava super bem, e aí eu vim para casa. E aí, com seis meses, eu fui refazendo as vacinas e nesse período de um ano eu fiquei afastada do meu trabalho, por conta dessa imunidade. Aí depois eu voltei a trabalhar e vida normal”, comenta.
Perda inesperada
Durante a noite do dia 26 de fevereiro de 2022, Tuane e a sua família passaram por um momento trágico que marcou para sempre a história da família. Cerca de um ano após o transplante, sua irmã perdeu a vida em um acidente de trânsito. Bárbara conduzia uma motocicleta quando teve a frente cortada por um carro. Após a colisão, o motorista fugiu sem prestar socorro. A jovem, que tinha 27 anos, quatro anos mais nova que Tuane, não resistiu aos ferimentos e faleceu. Bárbara também deixou um filho de dez anos.
“Não foi fácil, não é fácil. Comparado com a leucemia, eu passaria mil vezes para ter ela de volta”, destaca.
Tuane fala com orgulho da irmã, “Era uma pessoa muito intensa. Tudo que ela tinha vontade de fazer, ela fazia. E... é engraçado porque ela sempre falou pra nós que a vida dela ia ser curta e que ela tinha que aproveitar ao máximo, e a gente não entendia, né? A gente falava que não, que ela tinha que pensar um pouco no amanhã”.
Novo diagnóstico
No início de 2024 Tuane voltou a sentir cansaço excessivo. Porém, em nenhum momento pensou que poderia ser um novo diagnóstico de câncer, pois seus exames estavam bons. Inicialmente, suspeitou de uma arritmia e, durante a tomografia, foi constatado que ela estava com uma massa no tórax, um linfoma.
Foram novos dias internada, inclusive 36 dias na UTI. Cerca de cinco cirurgias por intercorrência, pois o pulmão enchia de líquido e também teve pneumonia.
Após cinco sessões de radioterapia, ela fez um PET Scan para analisar os impactos do tratamento no organismo. O tumor havia desaparecido, porém, foi necessário iniciar o tratamento com quimioterapia. Hoje, Tuane está em tratamento oral em casa e a cada 21 dias faz um tratamento por sete dias no hospital em Chapecó, onde recebe uma injeção na barriga. Segundo ela, os resultados têm sido satisfatórios.
“Tem tido um resultado muito bom porque depois que fiz os três ciclos dessa quimioterapia, eu fiz o PET Scan e ele mostrou que o tumor está limpo. Então agora eu tô no sexto ciclo e no início do mês de novembro eu vou para o sétimo ciclo e aí os médicos de Chapecó com médicos de Curitiba, estão definindo o como vai ser o meu protocolo. Ainda tô fazendo as quimios e a gente vai ver até quantos ciclos eu vou precisar fazer”, finaliza Tuane.
Um exemplo de resiliência e determinação, Tuane é uma guerreira que não se deixa abalar pelas adversidades. Com certeza, vencerá essa nova batalha por amor à vida, àqueles que a cercam e pela sua irmã que a apoiou constantemente e que, mesmo não estando presente em vida, está em sangue e alma, e esse é um laço que jamais será quebrado.
Fotos: Arquivo Pessoal